Existe um melhor local para apresentar livros do que um espaço com milhares de visitantes, rodeado de romances, ensaios, poemas e peças de teatro? O contacto directo entre leitores, obras e autores constitui um dos pontos altos da Festa do Livro, permitindo a troca de ideias e experiências e dando a conhecer novas obras.
O lançamento de nove títulos – Angola 1970. Chamas da Liberdade, de Francisco do Ó Pacheco; Maior É o Povo. Aqui É Campo Maior, de Filipe Chinita; Os Terranautas Extraviados. A Ciência e a Terra na Produção Material, de Rui Namorado Rosa; O Escândalo da Dívida e o Sistema Mundial Offshore (Vender a alma ao diabo), de Guilherme da Fonseca-Statter; Enquanto a Memória Responde, de Miguel Urbano Rodrigues; A Crise do Capitalismo: Capitalismo, Neoliberalismo e Globalização, de António Avelãs Nunes; O Contributo de Marx para o Marxismo, de Sérgio Ribeiro; A Estrada de Mil Léguas, de Mário Coutinho de Pádua; e Alguns contos, de Carlos Pato – atraiu naturalmente as atenções dos visitantes. Mas a viagem pela Festa do Livro teve igualmente o atractivo das promoções, que nalguns casos foram até aos 50 por cento de desconto, bem como os pacotes temáticos» preparados pelas Edições Avante! – estavam disponíveis nove conjuntos – a preços convidativos, reunindo desde Obras Escolhidas de Lénine a poesia revolucionária, o conjunto da obra literária de Manuel Tiago ou livros de história e memória sobre a resistência ao fascismo e a revolução de Abril.
Angola 1970. Chamas da Liberdade
Angola 1970. Chamas da Liberdade, de Francisco do Ó Pacheco, foi um dos primeiros títulos lançados na Festa este ano. A novela conta a história de uma companhia no Leste de Angola e, como explicou o autor, pretende ser uma homenagem aos homens que combateram em ambos os lados da Guerra Colonial. A sua experiência pessoal no terreno foi importante para a escrita da narrativa. «São pequenos mundos que existem na companhia. Há amizades, ódios, medos, mas também uma questão política: o papel dos soldados na perpetuação da opressão do regime fascista que, ao mesmo tempo, queríamos combater – e combatíamos no continente de forma legal e clandestina», afirmou Francisco do Ó Pacheco. A obra encerra também a história de amor entre um soldado português que passa para as forças do MPLA e uma guerrilheira angolana, uma trama não linear que dá uma «perspectiva humana dos soldados que foram combater para um continente que não conheciam», como comentou o escritor e argumentista Vicente Alves do Ó, que apresentou o livro. «Temos aqui uma visão diferente da Guerra Colonial, uma questão que ainda não foi resolvida pela sociedade. É, acima de tudo, uma história de sobrevivência de ambos os lados. É necessário falar sobre os momentos difíceis da História, porque fazem parte de nós», acrescentou.
Os Terranautas Extraviados. A Ciência e a Terra na Produção Material
O último livro de Rui Namorado Rosa, Os Terranautas Extraviados. A Ciência e a Terra na Produção Material, aborda questões sociais, científicas, ecológicas e económicas, num texto que «não tem precedentes entre nós», segundo Frederico Carvalho: «Não é de física ou de técnica, mas o conhecimento científico é o pano de fundo, numa escrita límpida e acessível a não especialistas. Trata de problemas que a todos nos afectam.» Questões como as fontes de energia, as crises alimentares e o aproveitamento da barragem do Alqueva são desenvolvidas ao longo das suas páginas, com o aprofundamento da compreensão das raízes dos problemas e dos passos que devem ser dados.
A Crise do Capitalismo: Capitalismo, Neoliberalismo e Globalização
Outro ensaio apresentado na Festa foi A Crise do Capitalismo: Capitalismo, Neoliberalismo e Globalização, de António Avelãs Nunes, obra «de uma acutilante oportunidade face à situação em que Portugal se encontra e que constitui um importante instrumento de análise e reflexão», nas palavras de Vasco Cardoso. O livro analisa as teses que suportam a acção do Governo e que dominam o meio académico, tornando com frequência a investigação científica num prolongamento da ideologia dominante. Encontramos aí uma caracterização da crise e reflexões sobre a dependência externa, as tendências neocoloniais, o papel dos monopólios, o rumo do euro, as suas consequências e o impacto nas condições de trabalho e no valor dos salários.
O Contributo de Marx para o Marxismo
O último livro de Sérgio Ribeiro, O Contributo de Marx para o Marxismo, teve como ponto de partida uma comunicação para o Congresso Internacional Marx – que se realizou em Maio, em Lisboa – a propósito de uma carta de Marx em que destacava a teoria do valor e o carácter dúplice do trabalho. «De facto, há marxismo para além de Marx. O marxismo é um guia para a acção», afirmou o autor, sublinhando que «sem trabalho ideológico, fica a faltar à luta revolucionária a tomada de consciência, e isso é fundamental». Durante a apresentação do volume, Avelãs Nunes sustentou que «temos o dever de resistir no terreno ideológico, porque a luta ideológica é um factor essencial no combate político».
Alguns contos
Foi ainda apresentado um volume de Carlos Pato, resistente antifascista assassinado pela PIDE em 1951. Alguns contos é marcado pelo neorrealismo, corrente literária que Pato ajudou a desenvolver no nosso País. «Esta publicação é uma homenagem ao escritor e ao homem. Devemos ter em conta o período e as circunstâncias em que foram escritas», defendeu José Casanova, recordando a repressão fascista, a Guerra Civil de Espanha, a ascensão do nazismo na Europa e as acções de resistência desenvolvidas por artistas e intelectuais, como foi o caso de Pato. «Temos de valorizar a intervenção dos intelectuais na arte e na sociedade e o seu papel na luta antifascista através dos seus livros, composições musicais, pinturas e esculturas», salientou.
Festa do Disco
Música… também para levar para casa
O pavilhão da Festa do Disco é já um local de culto para os melómanos. A edição de 2012 não foi diferente: alinhados por géneros musicais, aí estavam disponíveis CDs, DVDs, LPs, singles e cassetes de clássicos e novidades produzidas em Portugal e no estrangeiro. As expressões nas caras dos visitantes revelavam a alegria de quem encontra um trabalho há muito procurado, a surpresa dos que descobrem obras desconhecidas, a concentração de quem não pretende deixar escapar nada entre as compactas lombadas das capas… T-shirts e pins completavam o conjunto.